domingo, 6 de junho de 2010

NOITE DE SÃO JOÃO - Por Edilma Rocha


Os festejos de São João faziam a alegria da meninada todos os anos. Tempo de cisas simples e comemorava-se ali na calçada da rua.Famílias e vizinhos se reuniam para comemorar a noite tão esperada. Todos juntos, papai, mãezinha, Ricardo, Roberto, eu, Edilsinho, também meu avô, minha avó, sem esquecer Vilanir que morava connosco; mas Flash, o cachorro, estava enfiado debaixo da cama com medo das bombas.
As casas eram quase todas enfileiradas parede com parede mas aqui e ali um bangaló se destacava das demais.Eram das famílias abastadas, casas dos coronéis. As calçadas cheias de cadeiras, de balanço, esparguete e até tamboretes para sentar e assistir a grande festa da noite a de São João. As vizinhas se encarregavam da decoração preparando a mesa grande com toalha de xadrez recebendo os pratos típicos como, mungunzá, pé de moleque,canjica, bolo de macaxeira, pipoca, milho cozido, sucos, caldo de cana e aluá. Os cordões de bandeirinhas coloridas tremiam ao vento enquanto se ouvia o som do acordeon da galinha da rua. Não sabia porque era chamada assim, mas a sua figura, lembro que era diferente das nossas mães. Alta, magra, cabelos louros de farmácia, as unhas enormes e vermelhas, decote grande num vestido apertado e andava balançando as cadeiras, mas tocava bonito.
Era costume de cada morador ter a sua própria fogueira na frente da sua casa e montada próximo do meio fio da calçada. As bombinhas brilhavam na noite iluminada pelas fogueiras de uma ponta a outra da rua. A luz eléctrica já tinha ido embora e o clarão do fogo aquecia nossos rostos como uma carícia no clima frio de Junho fazendo as bochechas ficarem vermelhas. Minha avó olhava de um lado para outro tentando controlar nossos passos à certa distancia.
_ Telma, olha esses meninos !
_ Quando der fé o fogo engole um !
E fugíamos as gargalhadas...
Os mais velhos eram mais audaciosos e podiam estourar as famosas bombas rasga-latas e nós as crianças ficávamos com os traques, chuvinhas e pixites. Papai de vez em quando soltava u rojão para o céu num colorido brilhante que caía devagar em gotas de fogo de várias cores.
Mãezinha tinha me enfeitado toda. Cabelos bem presos por fitas, a franja bem aparada, sapatos com meias brancas e um vestido rodado na cor azul de uma espécie de tule com bolinhas que me penicavam inteira. Um horror !
_ Ela está linda neste vestido novo...
Falava para todos, e eu com ódio, franzia a testa e fazia um beicinho com um olhar de poucos amigos. Era um corre corre danado da meninada em volta da fogueira e cada um exibia orgulhosos os seus fogos. Joguei todos os meus traques nos pés de Ricardo e Roberto, fazendo-os pular adoidado enquanto me divertia. Só me restavam na caixinha os meus pixites,mas, as chuvinhas de Edilsinho giravam no ar hipnotizando nosso olhar. De repente, as faíscas caíram na minha caixinha e os pixites acenderam todos e tomaram conta do meu vestido de tule espinhento. Foi fogo pra todo lado. Pareciam estar vivos. Pixites subiam e desciam na minha saia rodada e eu aos pulos de medo e alegria. Medo do fogo me queimar e alegria porque iria me livrar para sempre daquele vestido azul de carrapicho. Ouviam-se vozes...
_ Chega ! Acode ! A menina vai se queimar !
E correram todos para me acudir, mas não aconteceu nada comigo, os pixites estavam fazendo a festa era no meu vestido novo. Quando o fogo cessou eu estava com uma carinha pra lá de feliz e o vestido do orgulho da minha mãe cheio de buracos queimados.
Eu estava a salvo.

Edilma Rocha

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