quarta-feira, 17 de junho de 2009

TRAJETORIA DE UM ARTISTA - BRUNO PEDROSA - Por EDILMA ROCHA

Menino magrelo e desengonçado, filho do sertão de Lavras da Mangabeira, deixou seu coração sonhar nas histórias contadas pela sua avó num alpendre de casa sob a luz de um lampião. Ela lhe passou o conhecimento da história do Ceará e despertou nele o gosto pelas artes nos tesouros de José Reis de Carvalho bem escondidos no baú. Um dia chegou-se ao seu pai agricultor e disse que queria ser artista. O pai mesmo achando que aquilo não era profissão de dar dinheiro, mandou o Raimundinho prá cidade do Crato para ser letrado. Ali ele fez as primeiras amizades e logo se integrou no meio artistico participando do movimento do salão dos jóvens. Promoveu eventos artisticos, um deles na Fundação J. de Figueiredo Filho, museu histórico do Crato, reunindo todos os artistas locais. Terminados os estudos no Colégio Diocesano, segue para Fortaleza para tentar penetrar no mundo artistico da capital, mas não foi bem suscedido. Não tinha cursos na área e nem diploma para ser aceito no cêrco fechado dos pintores da antiga SCAP. Decidiu seguir para o Rio de Janeiro e ser bacharel em Belas Artes. Mais uma vez o pai Raimundo André aposta no sonho do filho e o sustenta as custas de muito sacrificio. Ao chegar, apavorou-se quando descobriu que não sabia nada de arte para conversar com os colegas. Enfiou a cara nos livros e tomou gosto pela coisa. Ingressou na Faculdade de Belas Artes e aos poucos ficou sabendo que viver de arte era dificel e ao termina-la o pai não mais o sustentaria, pois sempre afirmou pra ele que arte era coisa séria.Fez algumas exposições e viu que não teria como viver da sua arte. E para continuar tentando,mais uma vez recorreu ao seu pai para bancar uma faculdade de Arqueologia e depois Filosofia. Neste período foi viver com um tio em Pendotiba nos arredores de Niteroi. Sr. Pedrosa que o acolheu como um filho e até construiu para o sobrinho o seu primeiro atelier lá no fundo do quintal, onde orgulhosamente recebia os amigos, como eu. Fez muitos trabalhos, realizou várias exposições, fundou o Museu de Arte Vicente Leite, com as aquarelas de José Reis de Carvalho, dois desenhos de Pedro Américo, herança da avó, e vários trabalhos doados pelos mestres e pintores ilustres dos quais tinha a amizade.
Leu A MONTANHA DOS SETE PALMARES de Thomas Merton, um jornalista marxista, poeta, que resolveu ser monge e o livro virou-lhe a cabeça. Meu amigo fez um contrato de cinco anos no Mosteiro de São Bento e desapareceu por um tempo. Trabalhou e produziu um álbum de desenhos. Mas desiludido, porque não encontrou por lá o que procurava. Voltou perdido e sem rumo. Sem amigos e a dura realidade da morte do Sr. Pedrosa. Tomou conta dos negócios da familia e se tornou negociante, precisava sobreviver e não poderia viver só de arte. Retomando a sua independencia, montou uma loja em Niteroi e outra em Ipanema e passou a vender as rendas do Ceará, mas no sotão continuava pintando.
Conheceu a Lila com quem casou e nasceram dua filhas, Andréia e Tereza. A esposa filha de italianos se tornou comerciante e apostou na carreira do marido. Conseguiu comprar um apartamento no Flamengo e montou seu atelier, mas foram assaltados várias vezes e resolveram mudar para Nova Friburgo. Nem tinha idéia de que estava adptando o corpo de sertanejo para o clima frio da Europa que o aguardava.
Expôs no mundo inteiro e tem quadros espalhados pelo Brasil, Estados Unidos, Mexico, Niacágua, Argentina, Italia, França, Suissa, Austria, Holanda, Inglaterra, Alemanha e Portugal. Hoje reside na Italia, precisamente em Bassano del Grappa, próximo de Murano e Veneza. É um artista consagrado com um currículo brilhante, além das galerias de arte que possue pela Europa, ainda fabrica cristais assinados em Murano, tapetes e jóias exclusivas. Na trajetória de um artista vemos a realidade de que é nescessário se projetar lá fora para aqui ser reconhecido.
As noites são aquecidas por uma lareira e lá fora a neve cai suavemente, enquanto escuta a filha ao piano. Mas jamais deixou de ser um sertanejo pois a sua pintura revela essa realidade que viveu nos torrões do sertão. E o Sr. Raimundo André Pedrosa, orgulhoso, recebe de vez em quando o filho, a nora e as netas, lá prás bandas de Lavras da Mangabeira.

Edilma Rocha