segunda-feira, 20 de julho de 2009

Nosso Homenagiado - VICENTE LEITE

O seu pensamento de menino voava tão alto quanto aquela pipa que soltava nas manhãs de domingo na Batateira, na cidade do Crato...
O filho mais velho, Vicente Rosal Ferreira Leite, de Felix Ferreira Leite e Maria Rosal Ferreira Leite, nascido no dia 6 de agosto do ano de 1906. O pai era conhecido como, Felix o Fogueiteiro, muito pobre, pórem, honrado e trabalhador. Mas possuia um grande orgulho na vida, em ver a sua sua roda de fogo brilhar nos ceus do Crato na coroação de Nossa Senhora da Penha.
O nosso jóvem ficou orfão de pai aos 17 anos e começou a trabalhar para ajudar a mãe e os dois irmãos. Foi para Fortaleza e lá ingressou na fôrça pública do Estado como soldado raso.No seu peito tinha o desejo de estudar pintura no Rio de Janeiro e guardava este sonho para si que poderia servir de risos alheios.
Numa tarde de outubro do ano de 1918, foi procurar o oficial de gabinete da Presidencia do Estado. Levava consigo um desenho debaixo do braço e explicou que era um presente para o Coronel e que desejava entrega-lo pessoalmente. Abriu lentamente o desenho à carvão diante do oficial que ficou boquiaberto com a cópia fiel do seu superior e prometeu-lhe conseguir um momento de fazê-lo prontamente. No dia seguinte fez a entrega do retrato ao Coronel Benjamim Barroso que surpreso com o soldado, ouviu pacientemente a sua história e prometeu manda-lo para o Rio de Janeiro cursar a Escola Nacional de Belas Artes como pensionista do Estado do Ceará. A policia afinou os brios do jóvem artista prometendo a fina educação do conhecimento das artes, estimulando o espírito e trnsferindo coragem, energia e elevando o merecimento. Mas não foram estas as atitudes do governo do Estado, foram as intrigas, a inveja e a incapacidade de regras morais que impediram o jóvem à seguir adiante. Não foi possivel a ida de Vicente Leite ao Rio de Janeiro, voltando ao seu posto de cabo raso da fôrça pública. No governo seguinte de João Thomé foram feitas outras tentativas. Este pediu a Assembléia Legislativa uma lei concedendo ao jóvem, uma pensão para os estudos. Foi o projeto de lei elaborado, votado e modificado na redação final concedendo a outro a pensão e não ao humilde cabo . Mas determinado em ajuda-lo, o engenheiro João Thomé lhe deu a promoção para Sargento e a passagem para o Rio com os vencimentos do seu posto.. Estes vencimentos, deixou para a mãe Maria Rosal e os dois irmãos menores, pois era arrímio de familia.
Finalmente seguiu para o Rio de Janeiro levando consigo o ideal de ser um grande pintor. Matriculou-se na Escola Nacional de Belas Artes que naquele tempo se fazia a admição com um teste de desenho a mão livre sôbre temas diversos e se saiu brilhantemente.Os primeiros anos como aluno da escola, lhe serviram como mestres Lucílio de Albuquerque, Rodolfho Chamberland e Batista da Costa.
No início morou no Catete, á rua Marqueza de Santos, numa meia-água, como era chamada a humilde moradia. E para a sua sobrevivência fazia pequenos trabalhos de pintura para o teatro e propagandas comérciais. Terminado o curso na Escola Nacional de Belas Artes, empregou-se numa empresa americana de retratos pastel, melhorando os seus rendimentos. Concorreu ao salão de Belas Artes e obteve o premio de Mensão Honrosa. No ano seguinte recebeu medalha de bronze e dois anos depois Medalha de Prata com o quadro, Poesia da Manhã.
Em 1926 fez o retrato de Clóvis Beviláqua que pousou para o artista cratense. Viajou ao Ceará e realizou uma exposiçao individual e não vendeu um só trabalho. Procurou vender alguma coisa para o Governo do Estado e tambem não conseguiu. Então faz a doação do retrato de Clóvis Beviláqua ao Tribunal de Justiça da cidade de Fortaleza e o grande jurista ao tomar conhecimento do fato, o agradece com um longo e solene telegrama. Visita a mãe e os irmãos e segue novamente ao Rio de Jaqneiro. A sua bagagem criou volume pois não vendeu os quadros e um amigo consegui-lhe a passagem de volta com o frete gratuito, uma vez do fracasso das vendas da sua exposição, o dinheiro lhe faltava.
Os quatro anos seguintes foram muito dificeis. Morou algum tempo á rua Pedro Américo, 20, no Flamengo. Ingressa na Sociedade Brasileira de Belas Artes onde é acolhido pelos amigos e mestres. Na primeira eleição ganhou por unanimidade para secretário, tal a sua dedicação à casa foi eleito vice_presidente por toda a sua vida.
Em 1929, Vicente Leite foi excluido da força pública do Estado perdendo a sua patente de sargento, cargo que tanto se orgulhava fazendo cair por terra o valor e a concepção que poderiam valer para a cultura de um povo. Esta noticia foi recebida de maneira brutal e cruel no meio da Sociedade Brasileira de Belas Artes, e todos queriam fazer um protesto e publicar nos jornais em circulações. Mas Vicente Leite se opôs a isso e pediu humildemente aos amigos pois achava que este fato iria denegrir a imagem do seu Estado que era tão importante, e ele era nada, um simples artista no meio do turbilhão da vida carioca. Queria manter o brio e o patriotismo que orgulhasse os filhos do Crato e jamais enxovalharia o nome da sua terra. Mas de uma outra maneira a arte fica e perdura como uma essência perdida.
Em 1935, no Flamengo, na antiga residencia sensorial da rua Marquês de abrantes, terceiro andar, sala de frente, instala a seu atelier. Ali pintava e sonhava em trazer a sua familia para junto de si. Crou a obra que lhe deu um premio de viágem ao Brasil, um sonho antigo. A vida começava a ser mais generosa par o caririense. Realizou dois grandes trabalhos de murais que lhe renderam milhares de cruzeiros. Um ao Ministério de Agricultura e o outro no Edificio Ceará, na Avenida Atlântica. Seguiu para o Norte do Brasil e em seguida ao Amazonas. Pintou as nossas matas e os nossos rios, e um destes trabalhos está no nosso Museu do Crato que leva o seu nome. Depois foi para o Sul demorando-se em Santa Catarina, Paraná e RioGrande do Sul. Devolta ao Rio prepara uma grande exposição para São Paulo que o consagrou em êxito e recompensas. Com o encerramento da exposição a imprensa de São Paulo oferece ao artista um banquete saudado pelo jornarlista Gaspar Líbero. Em 1939, pinta um mural para o Instituto da Estiva, na Avenida Venezuela, Rio. Juntando tudo que conseguiu, comprou uma casa velha a rua Perreira Guimarães, em Botafogo. Faz uma boa reforma e finalmente manda vir do Ceará a mãe e os irmãos. Na parte de cima instalou o seu atelier de pintura.
Em 1940, inaugurado solenemente pelos mais importantes politicos do Rio, o salão Nacional de Belas Artes e oferece ao artista Vicente Leite o maior prêmio do Brasil, viágem ao Estrangeiro com todas as despesas pagas. A crítica, a imprensa, cobrem de elogios o trabalho do pintor cratense. A tela foi intitulada Entardecer. Não viajou de imediato pois a Europa estava em guerra, ficando para anos seguimtes. Em 1941 foi juri do salão Nacional de Belas Artes e ainda expôs dois trabalhos, Ribeirão e Paisagem de Campo Grande. Torna-se professor de pintura e desenho ajudando aos novos. Recebe um convite do Chanceler Osvaldo Aranha para comparecer ao Itamarati representando com seus trabalhos os salões da Embaixada da Marinha do Brasil. Era realmente a vitória que se chegava finalmente ao humilde menino que sentado num banco da praça da Sé, contemplava a roda de fogo do seu pai brilhar nas noites de setembro na Padroeira da sua terra, o Crato.
Não realizou a viágem ao Estrangeiro seguindo outro em seu lugar, e meses depois em meados de outubro foi hospitalizado na Beneficência Portuguesa tendo ao seu lado os amigos e acompanhado dos melhores médicos. O seu caso foi considerado gave. São feitas várias transfusões de sangue e nada adiantou. Da janela do seu quarto vê amanhecer o dia 15 de outubro do ano de 1941, lembra pela última vez do hino que cantava na infancia.
... ao sopé da serra entre canaviais
dos guerreiros da tribo cariri
sou teu filho
ao teu c alor
cresci
amei
sonhei
vivi
quem já te viu, ó não te esqueces mais...
Foi sepultado no São João Batista no Rio de Janeiro, acompanhado dos amigos artistas, a imprensa e seus familiares. As despedidas ficaram para o poeta e escritor, Amora Maciel, em discurso.
Menino do Crato nasceu para a sua arte... ao longo da sua vida correu atrás do seu sonho... lutou e venceu as dificuldades... e pela arte morreu glorioso o nosso primeiro pintor cratense que levou o nome da terra dos Cariris pelo Brasil.

Edilma Rocha