sábado, 22 de agosto de 2009

RESTAURAÇÃO NO LOUVRE – REGINA MEDEIROS



POR – EDILMA ROCHA

O atelier de restauração e conservação de um museu é uma área proibida aos visitantes. Todo trabalho é supervisionado por câmeras, fotografias e documentado passo a passo. No laboratório, dependendo do estado das obras adaptam-se medidas que vão desde a remoção de um simples chiclete deixado por um turista até danos como rasgos e apodrecimento das telas.O principal objetivo é prolongar a vida das obras por meio de conservação. Apesar do envelhecimento natural das tintas e materiais, a ação do homem é a maior causa da destruição de obras de arte expostas em lugares públicos. A falta de cultura, aclimatização, limpeza periódica por especialistas são outras causas responsáveis. Os craquelados são as rugas dos quadros não se podendo retirar totalmente a passagem do tempo nem a historia da obra, a não ser quando por descamação seja necessária a reposição de pigmentos .
É neste ambiente de trabalho que se encontra uma brasileira, nordestina, baiana, Regina Medeiros , há trinta e cinco anos trabalhando em restauração de arte no museu do Louvre.Poucos conhecem este nome , a não ser, restauradores e pessoas ligadas ao assunto, que aqui repasso a vocês.
Regina Medeiros saiu do Brasil aos vinte e hum anos de Salvador para estudar Belas Artes na Espanha. Pintou bastante e chegou a expor seus trabalhos diversas vezes, mas o seu interesse pelos grandes mestres do passado levou-a a especializar-se em restauração. Estudou em Madri, Lisboa e Bruxelas. Mas em Paris surgiu a grande oportunidade de ocupar uma vaga de mestre em restauração e foi admitida. Passou a conviver com a maior coleção de pinturas do mundo que inclue mais de trinta e três museus nacionais na França. E hoje é mestre no atelier do Louvre e é uma das três mil que trabalham no museu e tem a chave de todas as portas.
É impossível saber a lista completa das obras restauradas por ela. Mas entre muitas, nomes como o do italiano Sandro Botticelli, o alemão Hans Holbein, o espanhol Francisco Goya, o francês Paul Cézanne e o holandês Vincent Van Gogh. Entre as obras restauradas estão algumas tidas como célebres, que ninguém imagina que foram tocadas um dia pelas mãos de uma brasileira.
Em 1986, para a inauguração do museu D´Orsay, ela restaurou impressionistas como Le Balcon de Édouard Manet, e Gare Saint-Lazare de Claude Monet. Regina é também requisitada por colecionadores particulares nos castelos famosos. Restaurou o acervo do inglês George Stubbs da coleção da Duquesa de Windsor nos aposentos privados da família real. Mas nunca tocou em um só quadro de autor brasileiro, pois vive a muitos anos na França. Uma vez restaurou trabalhos internacionais pertencentes a coleção do Conde Francisco Matarazzo.
Uma vez por outra vem ao Brasil visitar a família em Salvador. Pela profissão, optou por não casar e ter filhos. Em 1989 foi condecorada pelo governo francês com a Medaille dês Arts Et Lettres.
E quem sabe um dia, ela volte ao Brasil para nos mostrar a arte da conservação, do conhecimento científico e histórico na habilidade das suas mãos. Ou talvez volte a pintar para nós, Brasileiros. E é com muito orgulho que nós temos mãos nordestinas tocando obras do maior acervo do mundo.

Edilma Rocha